Estamos vivendo um novo tempo da estrutura supermercadista no Brasil. A redução de custos operacionais abriu um grande leque de oportunidades para operações mais enxutas, com menos mão de obra, aproveitamento vertical de armazenagem, redução de mix por produtos, incentivo a vendas institucionais entre outros fatores. Tudo isso associado à grande demanda dos consumidores pelo conforto e busca pela melhor experiência dos clientes, hoje chamados de forma mais detalhada como Shoppers. Por conta destas mudanças, o varejista precisa estar atento sobre como lidar com as perdas no atacarejo.

O mercado vem testando, com algum sucesso, vários destes aspectos que mencionei, permeando as operações entre custos x investimentos x otimizações x tecnologias, ou seja, estão aumentando as fichas de apostas no que promoveria um melhor retorno. A Prevenção de perdas no setor de atacarejo está no meio de tudo isso, transformando-se, cada vez mais, em um setor extremamente estratégico para o negócio. Não há mais como o varejista não pensar em Prevenção de Perdas enquanto repensa os moldes de sua gestão.

Prevenção de Perdas: quais as diferenças entre atacarejos e hipermercados?

Comparando por escala de perdas, pesquisas apontam que setorialmente as perdas são semelhantes entre os dois tipos de negócio, sendo um pouco maiores ou menores de acordo com as características locais de cada loja.

Pensando nisso, selecionei algumas dicas e comentários sobre o que há de sensível neste novo comportamento do mercado que coloca a Prevenção de Perdas como protagonista do varejo. Vamos analisar as perdas no atacarejo e entender como lidar com a prevenção em cada área da loja.

Análise de impactos das perdas no atacarejo por área da loja

Mercearia e Mercearia líquida

A perda dos produtos da Mercearia é semelhante para as duas versões de negócio e geralmente está ligada a gestão da operação ou associada a questões comerciais, logísticas e de estrutura. A Mercearia líquida também é semelhante, mas com um ponto a se destacar: o acesso do cliente a produtos unitários e prontos para consumo. Esta diferença faz com que o risco de perda por desvios, furtos e degustações passe a ser mais sensível em Hipermercados. Em ambos os casos, problemas como quebras são muito comuns e o varejista precisa estar atento:

  • Quebra operacional: buscar rever processos de quebras e sua identificação; executar inventários gerais e rotativos; e rever a exposição, manipulação e armazenagem.
  • Quebra comercial: buscar acompanhar rupturas, excessos e negociações.
  • Quebra logística: Buscar acompanhar rupturas, excessos e qualidade de transporte.
  • Quebra estrutural física: Otimizar a qualidade de armazenagem; acompanhar o fluxo de abastecimento da loja; negociar áreas nobres.
  • Quebra estrutural tecnológica: Acompanhar precificação, relatórios e ações rápidas.

Perfumaria

O mix de PAR (Produtos de Alto Risco) deste setor é muito diversificado, gerando perdas importantes, pois os valores agregados são considerados altos, com grande interesse do mercado paralelo.  Nos Hipermercados, a atenção a este segmento deve ser mais acentuada devido à grande variedade de marcas e linhas de produtos comercializadas. Já no atacarejo, muitas perdas ficam relacionadas a dificuldades com a gestão operacional dos produtos, gerando rupturas de prateleiras ou ainda, devido ao volume, avarias e dificuldade de aplicação de PVPS (primeiro que vence, primeiro que sai).

Limpeza

O uso indiscriminado de produtos deste setor, sem que seja devidamente registrado, gera grandes confusões nos estoques com a chamada transferência de produtos entre setores. Além disso, o abastecimento fica comprometido pela falta de espaços adequados para exposição e armazenagem, gerando avarias e quebras. Estes cenários podem ser considerados para os dois formatos de negócio. Um outro fator importante é o indicador de dias de estoque, onde podemos ter rupturas e excessos, comprometendo o fluxo de caixa e de espaços no estoque.

Açougue

O oferecimento de serviços para uma nova experiência dos clientes no atacarejo fez com que muitos procedimentos vindos de Hipermercados fossem migrados. No setor de açougue não foi diferente e uma série de ações que resultam em perdas começaram a surgir e o varejista precisa estar atento:

  • Dificuldade em estabelecer rendimentos nos cortes
  • Troca de etiquetas
  • Desvios e furtos
  • Abandono de produtos fora de refrigeração
  • Dificuldade com planograma (conforme o perfil de loja)
  • Ruptura ou excesso de produção de determinados cortes

FLC – Frios, Laticínios e Congelados

O aumento do mix para suprir o atendimento desejado pelos clientes na nova modalidade de atacarejo foi um fator determinante para o surgimento de maiores perdas. Hoje vemos grandes variedades de produtos (quase todos perecíveis) em que a adaptação de processos de controles fundamentais para conter as quebras é lenta. Associa-se a isto um aumento considerável de manipulações de produtos de alto valor agregado e de interesse do mercado paralelo (desvios por furtos). Tudo isto impacta de forma considerável os resultados do FLC. Outro fator importante são as questões comerciais que pagam “verba” e muitas vezes maquiam a rentabilidade, formando uma bola de neve negativa para os números.

FLV – Frutas, Legumes e Verduras

Desde o início do formato, o setor de FLV busca um melhor posicionamento no atacarejo, da mesma forma que outros setores, como já acontecia em Hipermercados. O processamento de produtos (geradores de receita) e o aumento do mix para atrair um público cada vez mais exigente em qualidade acaba por refletir em um aumento dos indicadores de perdas. Muitas redes ainda insistem em tratar este setor como coadjuvante em suas operações, sem perceber que o nível de margem e ganho pode ser exponenciado se bem trabalhado. Há um entendimento de padrão para todas as lojas, mas é necessário um estudo customizado para tratar as necessidades de cada uma delas e, assim, otimizar seus estoques e movimentações, gerando menos perdas.

Bazar

O setor de bazar vive grandes dilemas na composição de seu negócio. Com o aumento considerável de vendas online, notamos uma tendência de aplicação de Showrooms nas lojas de atacarejo, reduzindo impactos importantes de quebras operacionais. Além disso, parcerias com fornecedores para criação de ambientes terceirizados nas áreas de vendas, gestão independente do negócio e facilidade de acesso às importações fazem com que o setor vá se adaptando às novas realidades comerciais. A tendência é que as plataformas digitais das redes atuem de forma cada vez mais intensa e a compra física torne-se menor. Podemos dizer que as perdas neste setor ficarão cada vez mais ligadas às operações logísticas e comerciais.

Recebimento de mercadorias

Muitas vezes negligenciado, esta área da loja possui extrema vulnerabilidade e consequente aumento das perdas, pois é uma área que possui grande influência externa. Seus processos são diversificados, além de gerar um grande volume de movimentações diárias. Os maiores desafios para o recebimento de mercadorias nos dois modelos de negócio são:

  • Padronização dos processos
  • Treinamento constante de equipe operacional e Prevenção
  • Aplicação de tecnologias que embarquem os processos de todos os setores envolvidos pós recebimento

Frente de caixa

O último processo da cadeia de abastecimento de uma loja, seja atacarejo ou Hipermercado, é o mais crítico de todos. É na frente de caixa que decretamos a confirmação das perdas sem chance de recuperação, gerando impactos negativos e decisivos nos resultados. Algumas ações comuns nos dois perfis de negócios neste setor poderão inibir consideravelmente as perdas no atacarejo:

  • Treinamento intenso em atendimento com conteúdo rico em procedimentos de multiplicação, contagens, pesagens e produtos PAR, se possível com ajuda da tecnologia.
  • Criar agendas de manutenções, testes e limpezas de leitores, teclados etc.
  • Estabelecer padrões para tratamento de sangrias, trocos, cancelamentos, devoluções, divergências, distribuição de embalagens etc.
  • Investir em monitoramento auditável – O ROI é rápido e contribui decididamente em uma grande mudança de cultura da empresa, porém é fundamental que as análises das informações sejam eficientes e rápidas.