A nova edição da Pesquisa ABRAPPE de Perdas no Varejo Brasileiro foi lançada recentemente, trazendo um dado que, à primeira vista, parece positivo: o índice médio de perdas caiu de 1,57% (2023) para 1,51% (2024). Mas é preciso cautela.
No episódio 133 do PDV Podcast, conversei com dois grandes especialistas: Vanessa Urbieta, minha parceira na Inwave, e Antônio Balbino, da Contagem Inventários, onde discutimos o porquê esse número pode ser ilusório se for interpretado fora de contexto.
PET e eletrônicos: a influência de novos segmentos na média da pesquisa
Na conversa, um ponto ficou claro: o que ajudou a "puxar para baixo" a média de perdas foi a entrada de novos segmentos de varejo na pesquisa, especialmente PET e eletrônicos, que possuem perfis de perdas muito diferentes.
“O faturamento de PET teve grande relevância para essa média do indicador ter reduzido. Ele passou de 1,57% para 1,51% porque o segmento PET está aumentando, e esse faturamento teve um grande reflexo nesse indicador médio.” — Vanessa Urbieta.
A diluição estatística causada por setores com perdas mais baixas pode mascarar a realidade de segmentos mais críticos, como farmácias, supermercados e atacarejos, que viram seus índices de perdas aumentarem.
Atacarejo híbrido: crescimento de serviços (e de perdas)
Um dos destaques negativos da Pesquisa ABRAPPE 2025 foi o setor de atacarejo. Segundo os especialistas, o aumento significativo das perdas deste formato se deve à criação do que está sendo chamado de “Atacarejo Híbrido”. Em outras palavras, com a ampliação de mix e serviços como: padaria, FLV, frios e carnes manipuladas, o atacarejo passou a enfrentar desafios similares aos dos hipermercados, sem ter necessariamente a mesma estrutura de prevenção.
- Perdas no setor de Atacarejos em 2023: 1,25%;
- Perdas no setor de Atacarejos em 2024: 1,85%.
“A margem é muito pequena de lucro lá no final. [...] Se você hoje está comprometendo 1,85% da tua margem de lucro líquido em perda, eu coloco para vocês que algo em torno de 60% do lucro da operação está indo para perda, e isso não deixa um negócio saudável.” — Antônio Balbino
Como discutimos no episódio, o aumento de produtos de alto risco (P.A.R.), como destilados, frios e carnes manipuladas, exige uma mudança de mentalidade. A estrutura de prevenção do atacarejo precisa acompanhar sua nova realidade operacional.
Perdas não identificadas em alta reforçam a necessidade de investir em tecnologia
A Pesquisa ABRAPPE 2025 também revelou um dado preocupante: o crescimento das perdas não identificadas, aquelas percebidas apenas no inventário, sem origem registrada. O referencial sempre foi 80% de perdas identificadas e 20% não identificadas. Atualmente, esse equilíbrio se perdeu.
“Na última pesquisa, nós temos aproximadamente 40% das perdas não identificadas. Com certeza, em primeiro lugar, os furtos externos e internos têm uma participação significativa. [...] E existe realmente uma movimentação para evitar essas perdas de forma inteligente, utilizando sistemas que tenham gatilhos e alertas.” — Vanessa Urbieta
O crescimento das perdas não identificadas está ligado também a erros administrativos, falhas no estoque e problemas operacionais agravados por alta rotatividade de pessoal.
Tudo isso reforça a necessidade de investir em tecnologia para prevenção de perdas, que não dependa apenas da presença física de um colaborador, mas sim de dados e visibilidade em tempo real.
Prevenção de perdas: atacar a causa raiz, não só efeito
Um ponto importante da conversa foi a diferenciação entre tratar o sintoma e atacar a causa da perda. No caso das perdas identificadas, que ainda representam 60% do total, os vilões continuam sendo os mesmos: produtos vencidos, avarias e quebras operacionais.
“A gente está tentando resolver um problema que já está dentro de casa. [...] Não adianta simplesmente fazer o inventário e encontrar o número. É preciso analisar profundamente, entender a causa raiz e atuar desde o recebimento da mercadoria.” — Antônio Balbino
Vanessa complementou com um exemplo concreto: em um dos painéis do Fórum da ABRAPPE, o CEO da PET comentou que identificaram perdas causadas por um fornecedor e descobriram que o problema era a embalagem, que gerava muitas avarias.
Tecnologia em prevenção de perdas: mais do que uma tendência
A pesquisa indicou que 100% dos varejistas participantes usam CFTV, e houve aumento significativo na adoção do monitoramento de frente de caixa, segmento em que a Inwave atua fortemente. Isso mostra uma tendência clara: a prevenção de perdas está se tornando cada vez mais tecnológica e orientada por dados.
"Fiquei muito feliz porque aumentou o percentual da utilização do monitoramento de frente de caixa no varejo. Nós da Inwave sabemos o impacto positivo dessa tecnologia na identificação de desvios operacionais e no combate ao furto.” — Vanessa Urbieta
Tecnologias como CFTV inteligente, Fiscal Remoto, auditoria digital e monitoramento em tempo real são essenciais para enfrentar o novo cenário. Elas permitem escalar o controle, garantir imparcialidade e transformar a prevenção de perdas em uma função estratégica.
Considerações finais: o varejo precisa agir com estratégia
No final do episódio, lançamos uma reflexão importante: para onde deve caminhar a próxima Pesquisa ABRAPPE? Um dos pontos sugeridos foi a análise do self-checkout, que surgiu pela primeira vez nesta edição, com perda estimada em 5,76%.
Outro indicador aguardado para o futuro é o IAP - Índice ABRAPPE de Produtividade e Eficiência, que deve ajudar a conectar prevenção com performance operacional.
“Agora é a hora do profissional de prevenção de perdas se provar realmente estratégico." — Vanessa Urbieta
Essa é a missão de todos nós. O varejo está mudando rápido, e o risco também. Entender os dados, ir além da superfície e agir com tecnologia, processos e inteligência é o único caminho para um varejo mais eficiente e rentável.