A matemática, antes invisível nas decisões comerciais, tornou-se um diferencial estratégico para a indústria alimentar. Conceitos como combinatória, teoria dos grafos e modelos preditivos deixaram de ser restritos à academia para operar diretamente nos bastidores da produção, distribuição e relacionamento com o varejo.

A matemática combinatória, que estuda as diferentes formas de agrupar, organizar e combinar elementos dentro de um conjunto, é hoje um pilar para decisões de alto impacto. Na indústria, ela permite modelar milhões de combinações possíveis de mix de produtos, simular cenários logísticos, otimizar portfólios para canais distintos e reduzir desperdícios. Por exemplo, ao definir quais SKUs devem compor uma linha exclusiva para um grande varejista, é possível calcular matematicamente quais combinações atendem simultaneamente às metas de margem, giro e cobertura de categorias. Esse raciocínio também se aplica ao planejamento de produção em fábricas com restrições operacionais, ao agendamento de lotes com prazos e prioridades cruzadas e à roteirização inteligente que conecta centros de distribuição a dezenas de PDVs com máxima eficiência.

Tive a oportunidade de aprofundar esse campo durante meu curso na Tsinghua University (China), onde estudei estratégias matemáticas aplicadas aos negócios. A vivência acadêmica aliada à prática em inteligência comercial mostrou que, ao usar modelos combinatórios aliados a dados reais, a indústria pode sair do ciclo reativo e assumir uma posição de protagonismo, antecipando demandas e coordenando com precisão sua operação, seus canais e sua comunicação.

Além disso, ao utilizar a teoria dos grafos, é possível representar de forma visual e lógica todas as conexões críticas da cadeia alimentar — da matéria-prima até o ponto de venda. Essa visão integrada transforma o big data disperso em decisões conectadas, baseadas em redes reais de relacionamento, fluxo e impacto. A precificação, o planejamento promocional, a negociação com redes varejistas e até o desenvolvimento de novos produtos passam a ser desenhados sob critérios matemáticos e probabilísticos, e não mais apenas intuitivos.

E no varejo, como essa matemática faz diferença?

A mesma lógica usada pela indústria para decidir portfólios, organizar produção e roteirizar entregas pode (e deve) ser aplicada ao varejo. A matemática pode ser usada para entender quais produtos têm mais sinergia de venda, como organizar categorias nas gôndolas, e até qual a melhor sequência de abastecimento entre lojas. Varejistas que se conectam com essa inteligência conseguem negociar melhor com a indústria, antecipar demandas regionais e tomar decisões com mais precisão — reduzindo rupturas, melhorando margem e acelerando o giro de estoque.

A Matemática como guia para indústria e varejo

O futuro da indústria alimentar será cada vez mais moldado por quem dominar essas estruturas. A matemática deixa de ser apenas suporte e passa a ser motor. Decifrar esse código é mais do que uma vantagem competitiva — é o caminho mais eficiente entre inovação, escala e resultado.